Shogatsu: Ano Novo no Japão
O Ano Novo “Shogatsu ou Oshogatsu”, é muito celebrado no Japão, é um dos matsoris (festivais) mais comemorado, sendo comum as pessoas se prepararem com antecedência para o evento. Ainda em dezembro as pessoas começam a preparar-se para ele, através do “ōsōji”, um ritual em que “limpam” a casa, a empresa… quando toda a “sujeira”, os problemas e as coisas “velhas” são eliminadas. O foco começa a mudar para o “novo”, para o ano que chega, com a casa e o espírito leve. Os japoneses acreditam que um bom começo de ano vai garantir que todo o ano seja feliz e próspero.
Shogatsu: Tradições de Ano Novo
Muitos costumes tradicionais são observados no início do novo ano no Japão, sendo que cada uma dessas práticas está imbuído de um significado especial. É comum, além do ritual de “ōsōji” (limpeza) e “osusuosame” (limpeza nos templos e santuários), decorarem a casa, empresa, comércio e até seus “kamidanas” (pequenos santuários domésticos), com “shimenawas”, “Kadomatsus” e “shimekazaris”. Assim como escrever desejos em “Emás” (placas, geralmente de madeira, com agradecimentos e desejos escritos no verso) e cartões postais “Nengajō”, para que possam ser entregues no dia 1 º de janeiro.
Nengajō:
Enviar cartões “nengajous” virou uma tradição solene entre os japoneses durante as festividades de Ano Novo. Os cartões no estilo “Hagaki” (estilo mais comumente usado no Japão), são padronizados com mensagens e enviados para entes queridos ou clientes, para desejar-lhes um feliz início de Ano. O envio e recebimento é quase que uma obrigação social nesta cultura cordial. Tanto, que se alguém estiver de luto é comum avisar com antecedência sobre sua situação para evitar constrangimentos nesta ocasião, pois geralmente a família enlutada não participa de nenhum evento nesse período.
Segundo a tradição japonesa, não se deve receber o Nengajo antes do primeiro dia do ano. O que sobrecarrega os correios que são obrigados a fazer novas contratações, geralmente estudantes que atuam como temporários para atender a demanda. Os “nengajous”, usualmente pré-pagos, são comprados em lojas ou confeccionados artesanalmente o que pode incluir um desenho ou escrita em estilo Shodo, elaborados com tintas e pincéis específicos, ou ainda com um bloco de madeira conhecido como Hanga. Todos com imagens relacionadas ao ano vindouro como os símbolos do zodíaco chinês, logotipos de empresas, imagens de família e com mensagens do tipo:
Desejando a todos uma boa saúde! 皆様のご健康をお祈り申し上げます “Minasama no gokenkou o oinori moushiagemasu”. / Feliz ano novo! あけましておめでとうございます’ “Akamashite Omedetou Gozaimasu”.
kadomatsu:
Poucos dias depois do Natal (Kurisumasu), os Toris (Portais) dos Templos, assim como as entradas para muitas casas, lojas e edifícios estão decorados com “shimenawas”, cordas sagradas trançadas de palha de arroz e papel branco (para afastar maus espíritos e atrair os deuses), e o “kadomatsu”, decoração feita com pinheiro, ramos de ameixeira e bambu que significa literalmente “Portal de pinheiros”.
É comum muitos japoneses colocarem esses arranjos em pares em frente de casas e empresas, simbolizando o feminino e o masculino.
Esta decoração significa que a casa foi purificada, a fim de acolher os deuses, os espíritos dos ancestrais ou o Kami da colheita e deriva da crença xintoísta de que espíritos residam em árvores (kodamas). Além disso, a exibição de pinho que permanece verde mesmo no inverno, simboliza vida longa, e o bambu, que cresce reto e rapidamente, expressa o desejo de obter a virtude e força para superar as adversidades trazendo boas sorte para o ano que inicia.
Hatsumoude: Primeira visita ao santuário
Outro costume ainda observado, hoje, é uma visita a um templo ou santuário. A primeira visita do novo ano é conhecida como “Hatsumoude”, atraindo multidões de 31 de dezembro até os primeiros dias do novo ano. Mesmo as pessoas que normalmente não vão aos santuários ou templos na vida cotidiana, costumam fazê-lo nesta data para orar por sua saúde, boa sorte, proteção ou para afastar o mal e atrair fortuna.
Muitas jovens aproveitam esta oportunidade para vestir-se com quimonos de cores vivas, um toque que contribui para a atmosfera festiva. Ao orar em um santuário xintoísta, a forma usual é se curvar duas vezes, bater palmas duas vezes, e então curvar mais uma vez. Em um templo budista, simplesmente coloca-se as palmas das mãos juntas, sem bater palmas, em oração silenciosa.
Joya-no-kane: Sinos da véspera de Ano Novo
Os japoneses consideram 31 de dezembro um dia muito importante, e não é incomum para as pessoas ficarem a noite toda nesta ocasião. Quando a meia-noite se aproxima, o ar é preenchido com o som profundo de sinos tocados nos templos. Os sinos são tocados 108 vezes enquanto o ano velho desaparece e entra o novo ano. Uma explicação para que o sino toque, é que isso é feito para renegar os “108 desejos humanos mundanos” (bonno).
Esta tradição com mais de 1.000 anos no Japão é originária da China, é uma cerimônia que representa o termino do ano velho, destruindo todos os “pecados” e anunciando a renovação do mundo. O Budismo, juntamente com uma série de costumes agora encontradas no Japão, veio originalmente para a China da Índia. As contas de oração que a maioria dos budistas japoneses usam, chamados “Juzu”, são na realidade da Índia, onde eles são chamados de “círculo”, e sempre têm 108 contas.
Estas contas de oração simbolizam a totalidade do mundo e o círculo dos céus. Na astrologia indiana e religião, o círculo do universo visível é extremamente importante e é dividido em 12 áreas governadas por constelações do Zodíaco.
Este sistema é usado para entender e marcar os momentos exatos quando coisas como o novo ano iria ocorrer. Cada “zona” do zodíaco é dividido em nove “dígitos”, portanto, a totalidade da rodada celeste é de 108 dígitos e este número se tornou sagrado e um símbolo dos ciclos da vida.
O Budismo adotou essas idéias do hinduísmo, mas acrescentou um novo conceito: de que havia 108 pecados para combinar com o círculo de 108 dígitos do universo. A véspera de Ano Novo é o momento em que todos os pecados do passado devem ser enviados a distância e, tornou-se comum tocar o sino do templo 108 vezes. Este transmite o “poder de Buda”, e qualquer um que ouve este “joya-no-kane”, serão “lavados” de todos os 108 pecados, pronto para começar um novo ano!
Desde o período Edo, tornou-se comum para alguns templos abrir as portas e deixar as pessoas (geralmente por uma taxa) tocar o sino ou bater o tambor sagrado por 108 vezes.
Shogatsu: Os Alimentos Tradicionais de Ano Novo
Omisoka: Despedida do Ano Velho
É também na véspera do ano, conhecida no Japão como “Omisoka”, que significa literalmente o “último grande dia”, que as pessoas preparam alimentos que segundo as superstições japonesas, trazem boa sorte, saúde, longevidade e prosperidade para o ano vindouro. Velhos costumes relacionados com o último dia do ano (Omisoka), continuam em muitas regiões do Japão, mas um dos mais populares, que começou no período Edo (1603-1868), é comer o tradicional “Toshikoshi-soba“, (macarrão de trigo sarraceno). As pessoas comem Toshikoshi em 31 de dezembro, seja para jantar ou como um lanche da tarde, para desejar uma vida tão longa quanto os longos fios do macarrão que estão comendo. Comer Toshikoshi-soba a meia-noite, no entanto, deve ser evitado, pois acredita-se trazer má sorte.
Osechi-ryori
No “Omisoka” também é preparado o “Osechi-ryori”. São alimentos tradicionais, geralmente embalados em camadas de caixas de laca, chamadas “jubako”, que estão associados com as celebrações de Ano Novo. Estes costumes derivam de rituais de graças as colheitas, desenvolvidos ao longo dos séculos pelos japoneses, que se dedicavam principalmente a agricultura e de cerimônias religiosas antigas. O-Sechis, foram originalmente oferendas aos deuses xintoístas, mas eles também são alimentos de “sorte” destinados a trazer felicidade para a família. Assim como a Sopa de Ozoni, prato típico muito popular no Ano Novo japonês. Cada um dos ingredientes tem um significado especial como boa saúde, fertilidade, boa colheita, felicidade, vida longa: kazunoko (ovas de arenque) e Takenoko (broto de bambu) simbolizam a fertilidade e prosperidade; Kobumaki (Alga Kobu ou kombu enrolado) traz felicidade; Datemaki (omelete) simboliza sabedoria e sucesso acadêmico, e assim por diante. Os tipos de pratos osechis das casas japonesas variam de região para região e os alimentos são preparados de modo que sejam mantidos durante todo o período de Ano Novo, que dura quase uma semana.
Kagami-mochi
Um alimento que também não pode faltar na mesa japonesa de Ano Novo é o “kagami mochi”. Um bolo de arroz estruturado para decorar a mesa e o kamidana (altar doméstico) da casa para trazer boa sorte e prosperidade no ano que inicia. Este tradicional bolo de decoração consiste basicamente de dois “mochi” (bolinhos de arroz), o menor colocado sobre o maior, e no topo, uma “daidai” (laranja amarga japonesa) com uma folha de konbu. A origem do “Kagami mochi” remonta ao Período Muromachi (14o-16o). O nome “kagami” (espelho) é dito ter se originado a partir de sua semelhança com um tipo antiquado de espelho de cobre redondo, que também tinha um significado religioso. Reza a tradição que nos “mochis” são encontrados o “espírito” da planta de arroz, assim como os dois bolinhos simbolizam o ano que parte e o ano que chega, o “yin” e o “yang”, a Lua e o Sol.
Amazake
Amazake é uma bebida tradicional, feita de arroz fermentado, levemente adocicado, espessa e de baixo teor alcoólico, também conhecida como saquê doce. É muito comum encontrar essa bebida nos templos durante o Hatsumode (primeira visita ao Santuário), servido quente e com um pouco de gengibre ralado, para esquentar o frio do inverno japonês. O amazake pode ser servido como bebida, sobremesa, lanche ou até molho para salada.
O-toso:
Outra bebida que também não falta na celebração de Ano Novo no Japão é o O-toso ou Toso. Uma mistura temperada de ervas e vinho de arroz que, segundo a crença, lava os males do ano anterior e atrai vida longa. É creditado que um brinde (kampai) com essa bebida durante a virada do ano, traz sorte e também tem o poder de afugentar os maus espíritos. Cada membro da família é convidado a tomar um gole em três tamanhos de taça, chamados sakazuki.
Hatsuhinode: Os primeiros raios de sol do Ano Novo
No Japão, acredita-se que o “Hatsuhinode”, nascer do sol no primeiro dia do Ano Novo tem poderes sobrenaturais especiais. Rezar para o primeiro nascer do sol do ano tornou-se uma prática popular desde a era Meiji (1868-1912). Ainda hoje, multidões se reúnem no topo de montanhas ou praias com boas vistas do nascer do sol para rezar pela saúde e bem-estar de todos no Ano Novo.
Então para todos: “Akemashite Omedetou Gozaimasu” (あけましておめでとうございます’), que significa simplesmente… Feliz ano novo!!
Fonte: http://www.cacadoresdelendas.com.br
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